O tempo, esta barca
Que inefável me leva,
Acaricia-me
Os cabelos eriçados
Pelo medo.
Medo é uma nau
Que navega
Em mar revolto, causando
engrulhos
Estomacais.
Não fosse ele (o medo)
Talvez o Homem
Já não tivesse
Motivos de existir.
A existência é a caldeira
Que cozinha a vida
Em fogo brando,
Temperada de forma
Picante pelo medo.
Viver é o grande salmo
E milagre que deixo
Registrado no livro
Ensebado em que anoto
Minhas amarguras.
Nesse anotar amarguras,
Teço o rosário
Das minhas desesperanças.
Só que ninguém as viu
Ninguém as leu
Ninguém as sentiu
Porque sozinho
Chorei por noites e noites
Sem que fosse percebida
Minha grande angustia...
À qual nem mesmo eu
Sabia explicar...
E ainda não sei
Se assim me exigirem.
As angustias vão e vêm
Ao sabor dos dias,
Alegres,
Tristes,
Neutras...
Caminho ainda,
Mãos nos bolsos,
Chutando latas
E pedras.
Caminhar é um ato
Mecânico...
Às vezes o faço
Sem atinar
Com o destino,
Rumos,
Caminhos,
Nada...
Sei apenas que na minha vida
Sempre houveram estradas vastas,
Rios,
Córregos,
Lagos
E uma margem oposta
Que é o paraíso mosaico
O qual não consigo
Alcançar.
Os olhos se enchem
Esperançosos se renovam
Paixões se fazem
Amigos se vão
Irmãos se extraviam4tudo se
modifica
Rapidamente
A cidade cresce
A pobreza aumenta
Os cabelos embranquecem
Os filhos nascem
Crescem...
Hoje ela é avó...
Eu sou poeta...
Nós somos
O que Deus quis.
E seguimos,
Tendo pés chatos,
Calos,
Reumatismo
Cáries
Miopia
Aluguel para pagar
E tudo que um cidadão
Comum deve ter.
07-08/08/2000
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